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Mostrando postagens de janeiro, 2015

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Não foi do mar que me  veio o aviso Embora ouvisse as aves peregrinas Dialogando com as densas  ondinas Como a convencê-las a mudarem o ciclo Não foi da terra que me veio o aviso Embora ouvisse o murmurar do solo Enquanto abria-se às chuvas repentinas Como a convencê-las a lhe dar o viço Não foi do vento que me veio o aviso Embora ouvisse o sussurrar das folhas Intercalado à queda em cada escolha Como a convencê-las a lhe dar  juízo Não foi do fogo que me veio o aviso Embora ouvisse o crepitar e a chama Dançando sedutora sobre  a cama Como a convencê-la  a lhe dar sentido Não foi de fora, não; veio de dentro O aviso que restituiu-me o centro IN – Lena Ferreira – jan.15

DE AROMAS E SABORES

As carícias dispensadas a essas flores são parentes das que guardo com cuidado para alguém que um dia estará do meu lado deleitando-se de aromas e sabores Será quando extirpar-se-ão as dores dos dois peitos, solidários, imolados que, à distância, seguem tão resignados com paletas e pincéis buscando cores Pra pintarem um novo e leve destino onde dor e desencanto, clandestinos, não terão espaço nem no pensamento Por enquanto, essas carícias tão macias pretendendo irem além da poesia vão com o vento e atingirão o meu intento DE AROMAS E SABORES  - Lena Ferreira  - *rev
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- à D. Oliveira - Das coisas que me pede que lhe diga em forma de poema, apresento usando sempre os mesmos argumentos para que todo pé em paz prossiga: Não compre inutilmente qualquer briga nem conte os seus planos para o vento mantendo forte e firme em pensamento que o que sustenta o teto é a viga E que nem sempre quem se diz amigo servirá de apoio, de abrigo nas horas em que mais você precisa Amigo não tem custo nem tem preço e se você caminha pro tropeço é sempre  amigo aquele que lhe avisa

NOITES COM SOL

Há, sim, noites com sol e não duvide quando lhe falo assim, quase dourada, das vezes em que peles vívidas e ensolaradas fundavam madrugadas entre líquidos lençóis Das vezes em que o vento levemente amendoado lembrava as plumas de abanar velhos sultões Das vezes em que as flores virgens de outras estações perfumavam senões por incontáveis dias Das vezes em que olhares se entendiam e em total harmonia, uniam-se, corpo e alma Há, sim, noites com sol, de palma a palma onde a calma não se afasta, só abrevia os passos desse tempo que tem pressa pela nudez da lua expressa  durante o dia NOITES COM SOL - Lena Ferreira - jan.15

POÉTICA

- para a querida poetamiga   Helen Priedols   e seu livro  POETICALMAMENTE - Havia tanto Azul naquele azul índigo vívido, calmo e tão sensato imprimindo relatos lúcidos e frescos com aromas de amor e de ternura que, sem juras ou promessas vãs, vazias preenchiam cada uma das lacunas deixadas por pegadas de ansiedade                                                                         E a doçura de cada imagem impressa, sem pressa bebericada à tardinha entre goles de vento e de maresia sentada, foi sentida gota a gota e estendida até o além de uma noite e entendida até o além da estética: Poética mente calma  calma e transbordante em  luz eticamente clara clara e despertando motivos motivos, perfumes e gostos empossou meus sentidos empoçou  meus olhos e escorreu pelo rosto em matizes azuis POÉTICA - Lena Ferreira – jan.15  

PAUSA

Exclamações correndo soltas, livres, leves, expressam a pressa de um estado de euforia enquanto as interrogações - furando greves, em bando - levedam o que alimentaria Pontos finais já esgotados em fibra e força, arrastam-se e transmutam-se em reticências porém, pressinto que ainda há quem torça pelo pesar, ponderações, resiliência Só que as palavras brotam e bobas  chamam o vento que já cansado,  responde:  - não mais te aguento... mas, um amigo toca a alma e me inspira Respiro, pauso os passos céleres do tempo, aquieto a mente e a calma logo toma assento - é nessa pausa que a razão, leve, respira  - PAUSA - Lena Ferreira - jan.15

GRÃOS

Andei por onde as mãos, as bem pequenas, pediam-me a atenção do dia a dia então, pausei o verso, o verbo e a pena e estendi as minhas mãos em companhia E nesta pausa, o vento e a brisa amena que fazem eco em minha  poesia estrearam, de fato, entraram em cena não como figurante ou alegoria E entraram com as mãos nessa andança onde serena fui, também criança, declamando  seus risos  de alegria Andei por onde todo o pé que alcança há de arar a terra em confiança pr’esses pequenos grãos de poesia GRÃOS – Lena Ferreira – jan.15 *para o projeto Inspiraturas - Por onde andei

ENSAIO

O vento, já descansado da tarde, deitava-se cúmplice ao lado de nós e, enquanto o tempo passava de levinho, tão moroso e tão tranquilo, ensaiávamos  breves cochilos, cobertos por carícias macias bordadas sobre a delicadeza de algumas pétalas de lírios Entre suaves e cadenciados afagos, bebíamos largos tragos de zelo extremado pelo instante indescritível - em que os sussurros miúdos, vários, reticentes diziam, da gente, muito mais do que os gritos escancarados, estridentes em alardes confessionais  - ENSAIO - Lena Ferreira - jan.15

I -

um olhar atento, avesso às rotinas, decifra o querer oculto - além das retinas - daquela valente mulher: me nina. Lena F.