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Mostrando postagens de agosto, 2014

SONHAR-TE

E tudo é vago quando a noite principia... Traz-me a tensa incerteza de teus olhos sobre os meus E, devagar, os momentos tensionados aflitivos, todos, tantos, fazem-me buscar - sei onde - pelas tuas muitas mãos Olho pro céu que pariu filhas-estrelas recolho só uma delas que me nina até sonhar-te SONHAR-TE - Lena Ferreira -

NUM VERSO BREVE

Coberto com a cor acre fim-de- tarde vigia os passos apressados dessa lua que, gira e gira, alternando suas fases independente e indiferente aos olhares Percorre céus, visita outros lugares enquanto o vulto, entregue à vigilância, remói o vento, dispondo na balança o peso vago das graves suposições Enquanto a lua segue e lua, noite e dia irreverente, míngua e cheia, cresce, nova com fases, frases que namoram o absurdo agita o vulto, leve, sem grandes alardes... ...num verso breve que uma brisa facilita NUM VERSO BREVE – Lena Ferreira – ago.14

SEDE

És parecido com o mar: no avanço, recuo ou descanso o risco, o farol e o refúgio a calma, a força e a ternura o fruto e a fome e a sede minha E quanto mais me cedes dessas ondas imprevistas desparece-te com a terra; enquanto deságuo em ti os meus excessos germinam o fruto e a fome e a sede tua SEDE – Lena Ferreira – ago.14

COMO SE AINDA NÃO SOUBESSES

Conserva a pureza de tuas vestes; quando andares pelo insano mundo, evita a letra oca em falso fundo - e digo como se ainda não soubesses - Preserva o frescor das primaveras na fala mesmo quando for inverno releva todo tom que não for terno revela em ti o amor que tu esperas Reserva, do silêncio, um instante ao menos um, diário e bastante para servir-te às reflexões Conserva o coração e a alma branca conserva, com respeito, a fala franca preserva-te das tolas ilusões COMO SE AINDA NÃO SOUBESSES – Lena Ferreira – ago.14

DEVANEIOS - 01

Não fôssemos tão sóis, quem sabe compreendêssemos o teu espanto ao ouvir-me falar dessa saudade que bate em mim - e eu muito apanho e como dói - ao recordar aqueles dias que eram tão nossos, amanhecidos entre poemas sem rimas e sem métrica. Onde o melhor da poética era ninarmos entardeceres enquanto acompanhávamos lentamente um rastro negro e virgem cobrindo o céu. As noites infindáveis escorriam mansamente entre diálogos silentes enquanto carícias mais que ternas mantinham a madrugada acordada por mais tempo. Mas...Tudo fora abreviado por um grave vento num dos melhores momentos. Talvez por isso, a nuvem da incerteza paire nos arredores da tua razão, confundindo-te, quem sabe, por um tempo a mais, motivada pelos meus sinais. Atrevida que sou, direi ainda que esses sinais provocaram um estranho marolar bem no meio do teu peito e, se ainda te conheço, adivinho tua face corada, levemente inclinada para o lado esquerdo. Se assim for, direi que não estás sozinho nesse oceano

MAIS SIMPLES

Uma névoa bastante oportuna com lábios de nuvens raras aliciava as cortinas enluaradas sussurrando-lhes secretas falas Grávidas, em vaporosas vestes, desfilaram silentes pelas salas gestando o desejo mais simples: dias com noites mais claras MAIS SIMPLES – Lena Ferreira – ago.14

REFRÃO

Enquanto os pés descalços distraíam-se com a areia fina das margens do Araguaia, uma voz suave, macia acariciava um passado ainda recente onde uma chalana cortando as águas serenas do rio, levava para longe aquela morena que tinha em seus braços, agora com os olhos empoçados de mágoas(com razão, a voz dizia), partindo em dois o seu peito. Numa conversa amena com a brisa e a paisagem, confessava lamentoso seus graves pecados: não havia cuidado como merecia. Não havia amado como deveria. Não havia o efeito transver o defeito no dia após dia. O jeito, por hora, era um canto mais calmo pois quando o rio alcança a curva não tem mais volta e a revolta não adianta nem um palmo. Então, abraçado à viola, inseparável companheira, dedilhou as notas daquela canção onde o refrão trazia a alma à garganta: “É preciso a chuva para florir...” E enquanto tocava suave a melodia, bem de levinho essa voz chovia. REFRÃO – Lena Ferreira – ago.14

VERSOS CALMOS

São calmos os versos nascidos nessas últimas horas inverniças: quase salmos, quase preces, quase reza, quase um acalanto Calmos, tão calmos que não choram apesar do frio intenso, o vento tenso e a palmada do pós parto; se aquecem agasalhados por estrelas e pelo canto ...que nina cada verso com zelo profundo e, pouco a pouco, apresenta-os ao mundo VERSOS CALMOS – Lena Ferreira –

NO CALENDÁRIO

No rio dos teus olhos leio meus mares e ventos debruçada no teu peito Águas doce e salgada misturadas ao alento conferem o curso do leito Antes, passávamos pela vida contando os dias, contando os dias... Procurava-me, procurava-te embora inconscientes Cruzando caminhos, olhares, identificamo-nos Sorri com os olhos Tu, com os dentes Guardamos no calendário o cheiro desse dia: era inverno e ainda assim, florescia Desde então, deixamos de contar os dias, deixamos de contar os dias... NO CALENDÁRIO – Lena Ferreira – ago.14

ME POESIA

Nos dias em que a urgência falta é que bebo tua calma numa taça bem alta São dias de risos maduros em que verdades infantes ultrapassam os muros São dias que deslizam perenes em carícias aos segundos até que a noite acene E noite que mais parece dia onde o sol do teu peito brilha e me poesia ME POESIA – Lena Ferreira – ago.14

PÁSSARA

Quem escuta teu trinar tão convincente pouco sabe do que trazes na memória do que passaste, metade da tua história do que vai por trás do rosto sorridente Quem avista esse teu voo tão seguro pouco sabe do peso que tens nos ombros dos fantasmas que te tomam de assombro quando precisas de ponte e encontras muro Quem contempla o teu pouso tão sereno confiante em todo e qualquer terreno adivinha que a bagagem é pequena Mas quem escuta teu cantar de forma isenta reconhece que esse canto representa uma forma de arejar as tuas penas PÁSSARA – Lena Ferreira – ago.14