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Mostrando postagens de outubro, 2014

ACONCHEGO

No aconchego do teu abraço esqueço-me dos dias urgentes, dos dias aflitos em busca insensata e do encontro-conflito com a dama ingrata que usurpava a razão - paixão, hoje, não... Enquanto sussurras tuas ternas juras de amor eterno - enquanto dure - ao pé do meu ouvido a calma abraça a minha alma e avisa-me do amor manso e sincero que há tanto tempo espero para o meu coração... No aconchego do teu abraço - coberta de carinho - descanso o cansaço das buscas inúteis e urgentes, descanso serenamente nesse confortável ninho bordado por uma calma sensação... ACONCHEGO - Lena Ferreira - 

BIGAMIA

Percebo um silêncio que, mansamente, flerta comigo desde que a minha alma amanhece até que eu anoiteça. E, mesmo sabendo-me casada com a inquietude, insiste; sorri das queixas vazias, dos risos bobos, dos lamentos fúteis, das fúrias breves e euforias largas. Sempre, sempre com um sorriso miúdo, refrescante e sedutor. Ando pensando, seriamente, em render-me à sua proposta: calar o tempo, observar um tanto mais de tudo o que se passa antes de libertar o verbo da garganta. Antes de por a língua em cena. Antes de por o mundo a perder. Antes de... Ando pensando em reservar a ele, pendurado no céu da minha boca, a palavra sacrossanta loucamente profanada até aqui. Quem sabe assim, travemos uns diálogos mais macios...Quem sabe, então, a compreensão desça com calma dos céus... Talvez assim, os véus que cegavam a razão, se extinguam e os olhos enxerguem o que antes se revestia de mistério. Com os poros, peles e pelos entregues a esse apelo silente, os lábios quietos, alimentar-s

eu não sou flor que se cheire

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*** eu não sou flor que se cheire; sou flor que o perfume exala quando ouve e sente a fala delicada, mansa e sincera não sou flor de primavera sou de todas estações suportei vários verões e a dureza dos invernos sempre com um sorriso terno mesmo na adversidade não por mera vaidade; questão de sobrevivência não sou flor de quintessência nascida num solo seco flor que careceu de esterco flor que não suporta vasos flor que tem os olhos rasos tem amor à poesia tem coragem e, noite e dia, tenta o ajuste da essência  – Lena Ferreira – out.14

TARDES DE OUTUBRO

Nessas tardes de outubro, cai a chuva sobre as flores. É o céu que se comove diante de tanta beleza que a natureza apresenta e alimenta os olhares do mundo. No cenário que vislumbro, cada gota representa uma lágrima sincera desse céu que, comovido, verte a sua gratidão por mais uma primavera. Nessas tardes de outubro, sinto o quanto vale a espera e, num suspiro mais profundo, em cada gota, em cada respingo, lavo a alma e o coração e um novo perfume descubro... TARDES DE OUTUBRO – Lena Ferreira - out.14

ADERÊNCIA

Eflúvios de proporções cristalinas vestem os vários mergulhos de nós entre espumas rutilantes e fartas entre os afagos calmos e precisos - pelos cantos contidos dos apelos pelos veios ocultos e distintos - Aderem peles, poros, pelos e, impudicos, entregamo-nos, inteiros, ao momento deslocando esse tempo que morre lento, vagarosamente lento e só - pelos cantos do cômodo conforto pelos meios improváveis do instinto - Nessa mansidão demorada e morna pétalas de estrelas purpurinadas orbitam entre as imensuráveis delícias perfumando promessas impossíveis  ADERÊNCIA - Lena Ferreira -

FILTRO

Aprender a filtrar o que se ouve e o que se diz garante-nos um pouco mais de energia para saborear o dia, a semana, o mês, o ano, a vida! É um exercício contínuo e árduo, sim, no começo mas dominada a 'técnica', fica mais fácil e tem valido muito a pena. Entender que nem tudo o que nos enviam precisa ser recebido, poupa-nos de desgastes desnecessários. Se aceito, passa a ser meu. Descarto. Há tanto de bom e de bem para ser vivido e que é servido minuto a minuto que se ocupo as mãos com o que subtrai, não haverá meios de receber o que acrescenta. Cada um dá ou deseja ao outro, o que tem. Eu desejo-lhes o bem. FILTRO - Lena Ferreira - out.14

ANTES NÃO

Uns virão e ficarão por perto outros não Uns irão e voltarão pra perto outros não Esta é a lei: nada é certo nada é seu nada é meu nada é em vão E assim ir e vir 'não' e 'sim' se revezando e aceitando as escolhas Como folhas de outono de ninguém ninguém é dono Mas, abrace a sensatez: antes 'não' do que 'talvez'... ANTES NÃO - Lena Ferreira – out.14

EU POETA

Há um ser que em mim habita e transborda em sentimentos e nesse transbordamento à alma possibilita Viagens de entrega plena de entrega que varre mundos mergulho, vou lá no fundo retorno, leve e serena Como um sopro de brisa, leve minha mão, num instante breve conduz, calmamente, a pena Sentindo-me tão pequena perante o que me repleta descubro o meu eu poeta EU POETA - Lena Ferreira - 13/11/08

NO SILÊNCIO DA MANHÃ

No silêncio da manhã que se inicia eu elevo o pensamento, ensolarado por um céu de brilho intenso azulejado sob as nuvens que o vento acaricia Logo sinto responder-me a energia de um sol que me abraça com cuidado de um sol zeloso que ia preocupado com meu riso disfarçado de alegria Retirando o ranço dos resmungos tristes embalou a sombra do que não existe enviando cordialmente ao passado No silêncio da manhã, meu peito leve pronuncia uma oração sincera e breve: gratidão pelo presente renovado NO SILÊNCIO DA MANHÃ - Lena Ferreira

DE QUANDO

Sentada na varanda, te espero, ao lado da roseira cor de rosa e abraço a lembrança mais frondosa onde era meu teu verso mais sincero. Talvez pelo perfume que exala das rosas, o passado venha à tona. - de quando, do teu peito, eu era a dona rimando o verso que hoje se cala. - Sentada na varanda, sinto o vento acarinhando o vão do pensamento que teima em prosseguir nessa espera. Talvez, quem sabe um dia, na chegada tu digas que ainda sou tua amada e dê-me o beijo que jamais me dera DE QUANDO - Lena Ferreira - mai.14

CONVERTO

Avesso o verso e inverto o verbo em desaviso amasso o maço de papel e o improviso arrasta a voz e atrai os nós todos pra dentro que, emaranhados, travam a via bem no centro Imerso em vento, em passo incerto então, deslizo analisando o traço e o risco, catalizo as impressões entrelinhadas mar a dentro que muitas vezes servem, à ferida, unguento Converto o sopro da sangria e cicatrizo o corte raso e em superfície, paraliso a pulsação - privo de ar mas, só aguento até a próxima aventura em que adentro - CONVERTO – Lena Ferreira – jun.14

DO SOPRO

Sentindo o sopro da palavra ao longe sussurrada, delicada, sobre a pele nua se declara, instintiva, pelos poros; sua gotejando incertos versos de amar baixinho E tentando ocultar alguns segredos castos sob as folhas de um outono morno, lento e vasto retempera as sensações em verbetes voláteis na viagem onde o embarque não pergunta quando E do sopro, certas folhas que iam semimortas reanimam, reverdejam, transferindo o viço para o pouso desses versos em outras viagens resguardando a semente do vento inverniço DO SOPRO – Lena Ferreira – mai.14

DO PULSO

E na briga contra o tempo tropeços trituram os ponteiros segundos apressando efeitos demonstram os defeitos não raros minutam as horas em desgoverno e o pulso, o pulso em frangalhos Ah, tempo...Há tempo? Qual jeito? - Ouvir o tique-taque do peito. DO PULSO - Lena Ferreira - out.14

ENTRE SUSSURROS

A tarde vai deitando quase calma Na palma, levo um tanto da esperança De quem ainda caminha e não se cansa De carregar o bem no pulso d'alma Em breve, a noite vem trazendo a brisa Pra aliviar, do dia, esse mormaço E, da palavra,  todo esse cansaço Que, num quase silêncio, me avisa Entre sussurros castos e tão puros Que, erguendo pontes no lugar de muros, A caminhada, sim, será mais leve A noite desce e a madrugada avança Meus olhos, tal qual olhos de criança, Levam esse dito para a alma que escreve ENTRE SUSSURROS - Lena Ferreira - out.14

INTACTO

Guardo o teu nome inteiro, completo sob a língua, intacto de saliva e quando a lua cheia míngua traz à rua uma particular tonalidade que adorna este casto segredo ...meu medo primeiro é que descubras nessas horinhas descuidadas, rubras, a palavra colorida, perfumada e curta ladeada à tua breve e leve assinatura e que mantém a minha chama acesa ...medo mesmo, o que mais me loucura, é que descubras e, indiferente, permaneças com a tua muda deixando a minha assim, à míngua embora tesa secretamente... INTACTO - Lena Ferreira - out.14

DA JANELA

A noite aperta seus olhinhos já miúdos enquanto a lua bocejando me acena - é a madrugada despedindo-se serena - talvez por isso os meus versos fiquem mudos diante de tão exuberante e linda cena com um sol sorrindo ensaiando mais um dia; ponho de lado o papel, a tinta e a pena e, da janela, leio a mais perfeita poesia DA  JANELA – Lena Ferreira – out.14

OU

De tudo aquilo que não fora dito e que ficara suspenso como nuvens em dias dublados feras frases estacionadas no pensamento num compartimento esquisito ainda aguardam por um vento que as dilua ou faça chuva por fora, lavando por dentro OU - Lena Ferreira - out.14

EM NOME DA POESIA

Quando este corpo não tiver mais força quando esta alma afrouxar das vestes só um pedido faço a quem me ouça seja do sul, do norte, leste ou oeste Não quero vela, fita, flor, nem choro nenhum discurso, nenhuma homenagem nenhum aplauso, aclamação ou coro; partirei mansa e leve, sem  bagagem Volto ao pedido e espero que mereça: acenda um verso em nome da poesia para que, quando a partida aconteça, clareie a noite que fui, dia após dia... EM NOME DA POESIA - Lena Ferreira - out.14

DE SURPRESA

Nessa noite já sem vento, trago-te mimos e delicadezas embrulhados com as nuvens raras que colhi pela manhã. Era cedo e eu bebia a sede de te ver, novamente, sorrindo. Subi meus olhos orvalhados ao imenso céu que prometia um dia lindo, lindo, lindo... Recolhi, calma, cada raio de promessa juntando a minha na remessa e agora trago de surpresa, só pra te ver sorrindo...de novo. Então...Toma o teu presente. Abra.(-se) DE SURPRESA - Lena Ferreira - out.14

ENQUANTO ESCREVO

Enquanto escrevo no cais da alma revelo um tanto do caos à calma do riso ao pranto da mágoa ao vício dos precipícios da luz ao escuro da ponte ao muro da brisa ao vento dos sofrimentos das tempestades da maré alta do excesso à falta do voo ao abismo dos aforismos dos absurdos silêncio e falas de quarto e salas e, do que resvala, no que revelo enquanto escrevo não sou escravo enquanto escrevo ENQUANTO ESCREVO – Lena Ferreira – out.14

PELOS VÃOS

E da loucura que atingiu com corte a alma doida que esse corpo habita sangrou, sangrou até a quase morte: eis a demência em vitimar-se aflita De tão aflita, perdeu o rumo, o norte, o vento e a brisa que possibilita a calma, a paz e, novamente, a sorte do contraponto e, nesse mar, se agita Se agita em drama que nauseia a alma deixando o coração posto na palma da mão que treme sem guardar segredos Segredos vistos, a alma põe-se exposta onde as perguntas, sem terem respostas, escorrem sempre pelos vãos dos dedos PELOS VÃOS – Lena Ferreira – set.14 *mote ESTÁTUA FALSA de Mário de Sá Carneiro - sugerido por Rosemarie Schossing