ORBITAL
Dos astros que a noite fez junção
os rastros espocavam nos lençóis
estrelas estreavam nas paredes
e a sede insaciável era de sóis
e a fome incontrolável era de mais
enquanto a lua cheia se omitia
temendo o testemunho ocular
do crime insuspeito, sem delito
faíscas em murmúrios e fluídos
fremiam gestos como oblação
- no entanto, a madrugada prosseguia -
cortinas engravidavam nas janelas
de um vento amolecido que ressonava
num uivo solitário além da rua
à lua, como um lobo imponderável
dos astros, a noite gestou cometas
gametas da combustão por atrito
riscando o teto em feixes cadentes
que orbitavam pelo quarto em chamas
e, abrasados pela consumação,
aguardavam pelas mãos do dia
que viessem recolher as cinzas
- dessa explosão -
ORBITAL - Lena Ferreira - abr.15
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