PRESENTE

Então, é quase natal. Não só por isso, mas também por isso, agradeço. E agradeço por tudo aquilo que já passou. Pelo que voltou sem ao menos ter ido. Por tudo que se foi sem volta. Pelas reviravoltas. E pelo que está. O que virá, é novo e, é claro, desconheço. Não sou vidente. Mesmo assim, agradeço antecipadamente porque acredito que tudo o que nos acontece tem lá os seus motivos. No mínimo, no mínimo, é sinal de que ainda estamos vivos, certo?
Então, de peito aberto, agradeço pelas presenças e ausências. Das palavras, dos silêncios, dos ouvidos, dos gestos, das poesias e dos ventos. Agradeço pelos adiamentos, transferências e pelas antecipações. Pelas esperas produtivas. Pelas dúvidas certas. Pelas críticas construtivas. Pelos laços, os nós, o nós, as pétalas e os espinhos. Pelos caminhos em sorte ou revés. Agradeço aos pés que me fizeram chegar até aqui e me farão, espero, seguir num caminhar além. Agradeço ao peso da espada e a leveza da cruz. Agradeço especialmente pela consciência de ser feita de sombra e de luz. E por optar, na maioria das vezes, em me alimentar do que nutre o bem. Agradeço, agradeço, agradeço...
Peço pouco. Nada muito além do que coragem e fé. E que elas sejam maiores do que aquele medo que bate quando a gente perde o rumo, as chaves, as provas e as senhas. E que toda lenha que eu acenda seja para espantar o frio do corpo, do coração e da mente. E que eu saiba distinguir o que é meramente um capricho infantil do que me é realmente necessário. E que eu tenha sempre a certeza de que posso, e devo, quantas vezes julgar preciso, refazer o meu itinerário. E disposição para doar-me sem pensar no retorno. E olhos corajosos para olhar por dentro de mim e dentro dos olhos do que acontece no entorno. E vigor para a troca ao invés de apego ao troco. E amor, e saúde, e perdão, e amor, e amor, e amor...
Pouco, disse? Risos. É quase natal! Releve os excessos...
Então, eis o que mais peço, também verdadeiro: onde ou com quem quer que esteja que seja e esteja presente; um presente inteiro.




PRESENTE - Lena Ferreira -

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