outra vez



Remexia sua bolsa como se procurasse alguma coisa muito importante. Suas mãos suavam pressa, incômodo e impaciência.

Por fim, resolveu virá-la de ponta cabeça. De lá, como vômito, saiu um sem-fim de inutilidades. Pontas de cigarro, contas por pagar, algumas ausências que por protelar a procura, prescreveram reencontro.
Uma fruta em estado de decomposição, um sim, dois talvez e três nãos. E o caos generalizado esparramou-se no chão.

Fitou o amontoado um tanto indisposta . A náusea instalou-se no seu pensamento. Mais uma vez. Vontade de virar as costas para tudo aquilo. Mas. Não podia. Não devia. Era hora de encarar os fatos. E as fotos. Que desbotadas pelo tempo esquecido, faziam alarido no espaço apertado. Do peito. 
Não deveria ter deixado tanto tempo assim. Mas. 

Assim foi. Fechou os olhos. Respirou fundo. Selecionou os trastes imprestáveis e deles se desfez.
Mais uma. E, outra vez, esvaziou sua bolsa. E, com o espaço conquistado, alma e corpos já suados, aos poucos, outra vez, o seu pequenino mundo se refez.



outra vez - Lena Ferreira -

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