menos a saudade



A noite, com passo apressado, fazia um esforço tremendo para acompanhar os céleres pés do meu compromisso.

Luzes piscavam, como fossem sinais de alerta apontando-me a seta - imprudente - e por um segundo senti-me culpada pelo que nem pequei. Peço perdão, mesmo assim.

As ruas com seus movimentos, lembravam-me o que é existir lá fora. Há tempos enclausurada em pensamentos, pouco lembrava do que era tudo aquilo. Em meio ao alvoroço noturno, me dei conta de que o percurso era o mesmo. O mesmo que, por tantas vezes, fizemos. Mãos dadas, sorrindo. 

Ah, parecia até que o vento me espionava - e me espiona tempo todo, pressinto... -

Porque, naquele exato momento, ele me abraçou como se adivinhando a lágrima que ensaiava cair.
Ela veio, porque sim, inevitável, mas ele logo a levou. E deixou-me essa sensação doce. E calma, e serena. Tranquilizando-me quanto à escolha feita de voltar à vida, à luz e à lida. Do que já não é mais um sonho. 

Desde então, sigo em frente, respirando baixinho e baixinho confesso. Que no enredo que teço nunca houve culpados, tão pouco inocentes. 

A noite é minha testemunha. 

Por aqui, tudo passa apressado. Menos a saudade que sinto de você.



- Lena Ferreira - 

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